No artigo
precedente, tratamos da questão do Ano da Fé e o ato de crer. Na continuidade
de nossa reflexão, agora abordamos a questão do crer em tempos de crise.
Incialmente, deixamos claro que em todos os tempos e lugares, a fé e,
consequentemente, o ato de fé seja ele pessoal ou comunitário, defrontou-se com
dificuldades, prova disso são as próprias formulações de fé ou sínteses
doutrinárias existentes, que chegaram até nós.
Os tempos de
crise, ou segundo as Diretrizes da Ação
Evangelizadora da Igreja no Brasil na continuidade da Conferência de
Aparecida, os “períodos de profundas transformações”, podem nos levar a duas
atitudes, ambas igualmente perigosas: “um
agudo relativismo, próprio de quem, não devidamente enraizado, oscila entre
inúmeras possibilidades oferecidas ou uma
posição fundamentalista, que conduz ao fechamento em determinados aspectos, sem
consideração da pluralidade das vias e, ao mesmo tempo, sem considerar o caráter
histórico da realidade” e do próprio ato de crer, que se expressa num tempo
e sujeito às intempéries da realidade histórica (Cf. DGAE, n. 20).
O momento
presente pode, para alguns, ser visto como um tempo de ameaça à fé, porém, para
outros como uma possibilidade ou uma “ocasião propícia para introduzir o
complexo eclesial inteiro num tempo de particular reflexão e redescoberta da fé”
(Bento XVI, PORTA FIDEI, n. 04).
O tempo atual,
chamado de “mudança de época”, afeta os critérios de compreensão e julgamento,
o valores mais profundos da humanidade a partir dos quais se afirmam
identidades e se estabelecem ações e relações. O que antes era uma certeza, o
momento presente põe em crise.
O ato de fé não é
diferente, antes não muito tempo atrás se acreditava nas verdades e doutrinas
que outros tinham transmitido simplesmente porque tinham aprendido dos
antepassados, por exemplo, batizava se os filhos quando nasciam porque assim os
pais ou avós tinham ensinado. Esta realidade, hoje já não existe mais em muitos
lugares e ambientes, as pessoas precisam encontrar as razões para tanto. Querem
encontrar os valores, a importância e o sentido para justificar suas escolhas,
suas opções. Isso significa dizer, a realidade atual toca na essência de
questões profundas da humanidade, não de menos em questões profundas como a do
ato de crer.
Neste contexto, a
busca de sentido, a dúvida e a procura pelas razões das coisas, da religião,
qual a verdade? Qual a Igreja devo frequentar? Qual a religião devo batizar
meus filhos? Tudo isso levado ao extremo conduz a dois abismos: negação de tudo
e todos (rejeição de qualquer aspecto de vida de fé e religião) ou ao relativismo
(tudo é a mesma coisa, todas falam de Deus. Dá no mesmo).
O Ano da Fé,
neste emblemático momento histórico, porém, apaixonante período que nos cabe
viver e agir quer nos ajudar no sentido de buscarmos compreender os fundamentos
da nossa fé, como “uma autêntica e sincera profissão da mesma fé, que ela seja
confirmada individual e coletivamente, livre e consciente, interior e exterior,
humilde e franca”.
O Ano
da Fé é o grande convite para que toda a Igreja possa tomar “exata consciência
da sua fé para reavivar, purificar, confirmar, confessar, atestando assim que
os conteúdos essenciais da fé, que há séculos constituem o patrimônio de todos
os crentes, necessitam ser confirmados, compreendidos e aprofundados de maneira
sempre nova para se dar testemunho coerente deles em condições históricas
diversas das do passado” (Bento XVI, PORTA
FIDEI, n. 04). Até breve!!
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