23 de fev. de 2013

ANO DA FÉ I - O QUE É CRER?

            No íntimo do ser humano, no mais profundo do seu ser, no âmago da vida e da morte, no mundo e na história, existe uma fome profunda e angustiante há dilacerar o coração da humanidade. A estes corações angustiados e sedentos, dedicaremos uma série de artigos que passaremos a produzir a partir de agora (Tempo da Quaresma) sobre o Ano da Fé.
           Esta fome profunda, ninguém e, nada deste mundo poderá preencher e saciar: é a fome e a sede, do vazio do coração humano, que somente o peregrino de Nazaré - Jesus Cristo - poderá saciar.
Os homens e as mulheres de todos os tempos se perguntam: para que viver? Para que amar? Para que morrer? Que sentido tem o mundo com tantas lutas e guerras?
Olhando ao nosso redor, encontramos homens e mulheres, que interpelam-nos a respeito do sentido último das coisas, em particular,  a respeito de Deus e da plausibilidade da religião.
Uma parcela da sociedade vive entregue às vaidades e às futilidades da vida do tempo presente, no ter e no poder: trabalhar e trabalhar, consumir e conquistar posição e projeção sociais.
Outra parcela, não de menor proporção, busca desenfreadamente um sentido para a vida entregando-se a qualquer forma de vida e experiência religiosa: busca de sentido, carência do divino, carência de um sentido profundo para a vida.
Não sem razão, outro grupo de pessoas, nominalmente, um grupo não muito pequeno ainda, porém, de convicção não muito numeroso, entrega-se no serviço simples e humilde, na vivência da Palavra de Deus e no compromisso com o Reino de Deus. Vive profundamente sua fé, no seguimento de Jesus e no testemunho profético, segundo aquilo que crer e experimenta, a partir do encontro com o Crucificado Ressuscitado.
O que é crer? Em que ou em Quem eu tenho fé, ou melhor, eu creio?
Muitos, principalmente, os jovens se perguntam cada dia mais: qual é o núcleo irredutível da fé? Qual é a Boa Nova que deve ser vivida? A Boa Nova a proclamar aos homens e mulheres de hoje?
Quando falamos ao homem ou à mulher de hoje, queremos dizer que “a fé se exprime em fórmulas vinculadas à cultura de uma época” (Matagrin). Mesmo sendo verdades imutáveis, Relevadas por Deus e, continuamente, guardadas e transmitidas pela Igreja, na assistência do Espírito Santo, elas têm suas formulações dentro da cultura de uma época.
Dito isso, uma formulação de fé herdada do passado pode não ser acessível ao homem e à mulher do século XXI. Isto não quer dizer que a verdade tenha se transformado e não seja mais digna de credibilidade, porém, que a sua linguagem pode não ser compreendida à geração de hoje.
Eis, pois, nosso desafio! O Ano da Fé deverá ser este tempo oportuno para renovarmos nossa vida da fé e, ao mesmo tempo, reinterpretar, expor de novo a fé eterna com as imagens e a linguagem familiar ao nosso tempo, que passa velozmente, isto é, ao homem pós-moderno.
A exortação segue sendo a mesma, que a "fé não pode mais ser considerada como um pressuposto óbvio da vida diária. Ora, tal pressuposto não só deixou de existir, mas frequentemente acaba até negado. No passado, era possível reconhecer um tecido cultural unitário, amplamente compartilhado no seu apelo aos conteúdos da fé e aos valores por ela inspirados, hoje parace que já não é assim em grandes setores da sociedade devido a uma profunda crise de fé que atingiu muitas pessoas" (Bento XVI, Porta Fidei,n.02).
Nesta mesma linha Karl Rahner, por ocasião do Ano da Fé, em 1967, afirmou: Que os pregadores do Evangelho se esforcem por proclamar a velha fé ortodoxa de tal forma que seja realmente compreendida pelo homem de hoje. Que pensem, quando pregam, não nos piedosos – ou que se consideram tais – sentados embaixo do púlpito, mas naqueles que ali não se encontram: os hesitantes, os incrédulos e ateus: naqueles que o são e naqueles que se julgam sê-lo.
Crer é ter a certeza da presença do Alguém. É esperar mesmo diante, das provas que o mundo lhe impõe e, ao mesmo tempo, tornar esta esperança credível ao mundo e as outras pessoas. Até breve!!

21 de fev. de 2013

QUARESMA E CAMPANHA DA FRATERNIDADE!

           A quaresma se apresenta para todos nós, como um convite à conversão do coração e a transformação das estruturas de pecados da sociedade. Ela apresenta dois aspectos que estão profundamente interligados, a saber: a preparação para o sacramento do Batismo e a penitência. O Concílio Vaticano II pede aos fiéis que se “dediquem com maior afinco, neste tempo, a ouvir a Palavra de Deus e à oração, preparando a celebração do mistério pascal na liturgia e na catequese litúrgica”.
           A Igreja, por meio dos seus ensinamentos, nos orienta nesta vivência dizendo: “acentuem-se os aspectos batismais da liturgia quaresmal, resgatando elementos tradicionais, que foram abandonados. O mesmo se diga de certos aspectos penitenciais. A catequese deve chamar a atenção para as consequências sociais do pecado, juntamente com a consideração da natureza própria do pecado, que deve ser detestado” (Sacrosanctum Concilium, n. 109).
Neste particular, encontramos a estreita ligação entre Quaresma e Campanha da Fraternidade (CF), uma vez que a CF é um convite e um chamado de atenção que a Igreja faz, despertando todos os cristãos para a realidade social a que precisamos prestar atenção e exige a conversão para transformar esta realidade, que a cada ano a Campanha da Fraternidade nos adverte.
Considerações Pastorais
Ao falar de tempo da quaresma ou simplesmente de quaresma, vale perguntar quanto inicia e quando termina o tempo da quaresma? A Quaresma se inicia com a Quarta-Feira de Cinzas e estende-se até a celebração da Missa da Ceia do Senhor (Quinta-Feira Santa).
Alguns desafios pastorais, porém, permanecem quanto a esta aplicação e íntima ligação Quaresma e CF, tais como:
a)    Resgatar a dimensão batismal do tempo da quaresma, inclusive, valorizando e preparando catecúmenos para serem batizados na Vigília Pascal;
b)   Compreender que a quaresma não tem um fim em si mesmo, mas que ela nos prepara para a celebração da páscoa do Senhor;
c)    Fazer do tempo quaresma um momento de ênfase na proposta da CF, porém, não sufocando o clima litúrgico da quaresma;
d)    Resgatar a dinâmica social da Campanha da Fraternidade, libertando-a do discurso puramente religioso da Igreja;
e)    Que a liturgia seja mais centrada e reflexiva em vez de tantos ruídos e barulhos como acontecem em algumas Igrejas. O mundo tem medo do silêncio pois este provoca a consciência.
f)      Promover, valorizar e incentivar a reflexão da palavra de Deus através dos Grupos de Reflexão e dos Encontros da CF em Família.
g)    Não acabar a CF com a quaresma. Este tempo é apenas um momento forte, porém, não deve ser o único. A CF pode e deve ser prolongada em ações pastorais durante todo o ano nos Planos Pastorais das Paróquias e Dioceses.
A Campanha da Fraternidade de 2013, abordando o tema da juventude, propõe-se a olhar a realidade da juventude, acolhendo-os com a riqueza de suas diversidades, propostas e potencialidades; entendê-los e auxiliá-los neste contexto de profundas mudanças, ou se preferirmos, nesta mudança de época.
No intuito alcançar seus resultados, a CF tem como Objetivo Geral: acolher os jovens no contexto de mudança de época, proporcionando caminhos para o seu protagonismo no seguimento de Jesus Cristo, na vivência eclesial e na construção de uma sociedade fraterna fundamentada na cultura da vida, da justiça e da paz” (Manual da CF 2013, p. 11).
O objetivo geral apresenta três elementos que constitui o núcleo de reflexão testa proposta de trabalho com os jovens:
a) encontro com Jesus Cristo;
b) participação ativa na comunidade;
c) ajudar os jovens a serem agentes de transformação da sociedade.
Tendo presente todos estes fundamentos e consciente de sua responsabilidade na evangelização da juventude foi que a Diocese de Salgueiro, realizou no último sábado (16) o Seminário Diocesano de Estudo e Lançamento da Campanha da Fraternidade (CF) 2013. A CF 2013 que tem como tema “Fraternidade e Juventude” e lema “Eis me aqui, envia-me” (Is 6,8).
O Seminário de Lançamento foi realizado pelo Setor Diocesano da Juventude em parceria com a Comissão Diocesana de Animação da CF e Conselho Diocesano de Pastoral e contou com a presença de quase todas as paróquias da Diocese, à exceção de Parnamirim e Ipubi.
O evento se deu na Escola Mul. Professora Cleusemir Pereira do Nascimento Silva, cidade de Salgueiro e foi assessorado por:
Dalvinha (professora da rede municipal de ensino de Ouricuri e coordenadora do Projeto Juventude, Arte e Cultura da ONG CAATINGA), a qual trabalhou a primeira parte do Texto-Base da CF 2013, metodologicamente chamada de VER a realidade da juventude no Brasil;
Zezinho (assessor do Setor Diocesano da Juventude), o qual trabalhou a segunda parte do Texto-Base, chamada de JULGAR a realidade da juventude à luz das Sagradas Escrituras, do Magistério da Igreja, da legalidade, da ética e da moral.
Pe. Izidório (Coordenador Diocesano de Pastoral e ex-referencial da juventude nas dioceses de Petrolina e Salgueiro), o qual trabalhou a terceira parte do Texto-Base, chamada de AGIR para transformar a realidade sofrida da juventude.
Durante o Seminário foram realizadas reuniões com os participantes de cada uma das três Áreas Pastorais da Diocese para proposição de iniciativas a serem desenvolvidas em nível diocesano visando massificar o tema da CF 2013 em todo o território diocesano.
Após exposição plenária e considerações dos participantes ficou definido que:
a)    A Campanha da Fraternidade (CF) é uma atividade de toda a Igreja e não apenas das pastorais relacionadas com o tema de cada ano, portanto, todas as comunidades urbanas e rurais e todas as pastorais, movimentos, grupos e serviços devem se envolver na realização;
b)   As paróquias precisam trabalhar o tema da CF, primeiro nas suas comunidades, pastorais, movimentos, grupos e serviços, para depois avançar para outros segmentos da sociedade;
c)    Envolver todas as pastorais e movimentos nas questões sobre juventudes e na realização da CF 2013;
d)    Trabalhar o tema da CF 2013 com os educadores do máximo de escolas possíveis;
e)    Realizar um fórum/seminário sobre a CF, envolvendo todas as forças vivas da localidade e mostrar os campos de presença e ação da juventude;
f)      Encontrar formas de trabalhar o tema da CF 2013 nos mais diversos meios de comunicação existentes no seu território;
g)      Participar dos Fóruns sobre a CF 2013, a serem realizados por cada área pastoral, conforme deliberação da II Assembleia Diocesana de Pastoral. Na Área Pastoral São Marcos, em Salgueiro, dia 02 de março de 2013. Na Área pastoral São Lucas, dia 03 de março de 2013, em Granito.
                   Por fim, a Paróquia Nossa Senhora da Conceição, Cabrobó-PE, realizará, no próximo dia 01 de março de 2013, um ato de mobilização e aprofundamento sobre a Campanha da Fraternidade, pretendendo mobilizar pastorais, movimentos, associações religiosas, igrejas e as Escolas Públicas Municipais e Estaduais, como também a sociedade civil, juntamente, com a secretaria municipal de juventude. Bom trabalho!!

18 de fev. de 2013

Carta de um jovem sobre a renúncia do Papa Bento XVI

        A Igreja no Brasil, vivencia simultaneamente à quaresma a Campanha da Fraternidade, que este ano tem como tema FRATERNIDADE E JUVENTUDE e o lema: Eis-me aqui, envia-me.
Neste contexto, vem o anúncio feito pelo Papa Bento XVI, da sua renúncia. Nada melhor para buscar ententer este acontecimento do que o testemunho de um jovem. Vejamos que grandes lições este jovem tira do acontecimento: renúncia do Papa Bento XVI.
"Tenho 23 anos e ainda não entendo muitas coisas. E há muitas coisas que não se podem entender as 8h da manhã quando te acordam para dizer em poucas palavras: “Daniel, o papa renunciou.” Eu apressadamente contestei: “Renunciou?”. A resposta era mais que óbvia, “Renunciou, Daniel, o papa renunciou!”. 
O papa renunciou. Assim amanheceu escrito em todos os jornais, assim amanheceu o dia para a maioria, assim rapidamente alguns tantos perderam a fé e outros muitos a reforçaram. Poucas pessoas entendem o que é renunciar.
Eu sou católico. Um de muitos. Desses que durante sua infância foi levado à missa, cresceu e criou apatia. Em algum ponto ao longo da estrada deixei pra lá toda a minha crença e a minha fé na Igreja, mas a Igreja não depende de mim para seguir, nem de ninguém (nem do Papa). Em algum ponto da minha vida, voltei a cuidar da minha parte espiritual e assim, de repente e simplesmente, prossegui um caminho no qual hoje eu digo: Sou católico. Um de muitos sim, mas católico por fim. Mas assim sendo um doutor em teologia, ou um analfabeto em escrituras (desses que há milhões), o que todo mundo sabe é que o Papa é o Papa. Odiado, amado, objeto de provocações e orações, o Papa é o Papa, e o Papa morre sendo Papa. Por isso hoje quando acordei com a notícia, eu, junto a milhões de seres humanos, nos perguntamos “por que?”. Por que renuncia senhor Ratzinger? Sentiu medo? Sentiu a idade? Perdeu a fé? A ganhou? E hoje, 12 horas depois, creio que encontrei a resposta: O senhor Ratzinger renunciou toda a sua vida. Simples assim.
O papa renunciou a uma vida normal. Renunciou ter uma esposa. Renunciou ter filhos. Renunciou ganhar um salário. Renunciou a mediocridade. Renunciou as horas de sono pelas horas de estudo. Renunciou ser só mais um padre, mas também renunciou ser um padre especial. Renunciou preencher a sua cabeça de Mozart, para preenchê-la de teologia. Renunciou a chorar nos braços de seus pais. Renunciou a, tendo 85 anos, estar aposentado, desfrutando de seus netos na comodidade de sua casa e no calor de uma lareira. Renunciou desfrutar de seu país. Renunciou seus dias de folga. Renunciou sua vaidade. Renunciou a defender-se contra os que o atacavam. Sim, isso me deixa claro que o Papa foi, em toda sua vida, muito apegado à renuncia.
E hoje, voltou a demonstrar. Um papa que renuncia a seu pontificado quando sabe que a Igreja não está em suas mãos, mas nas mãos de alguém maior, parece ser um Papa sábio. Nada é maior que a Igreja. Nem o Papa, nem seus sacerdotes, nem os laicos, nem os casos de pedofilia, nem os casos de misericórdia. Nada é maior que ela. Mas ser Papa nesse tempo do mundo, é um ato de heroísmo (desses heroísmos que acontecem diariamente em nosso país e ninguém nota). Recordo sem dúvida, as histórias do primeiro Papa. Um tal... Pedro. Como morreu? Sim, em uma cruz, crucificado igual ao teu mestre, mas de cabeça para baixo. Hoje em dia, Ratzinger se despede de modo igual. Crucificado pelos meios de comunicação, crucificado pela opinião pública e crucificado pelos seus irmãos católicos. Crucificado pela sombra de alguém mais carismático. Crucificado na humildade que tanto dói entender. É um mártir contemporâneo, desses que se pode inventar histórias, a esses que se pode caluniar e acusar a vontade, que não respondem. E quando responde, a única coisa que faz é pedir perdão. “Peço perdão pelos meus defeitos”. Nem mais, nem menos. Quanta nobreza, que classe de ser humano. Eu poderia ser mórmon, ateu, homossexual e abortista, mas ver uma pessoa da qual se dizem tantas coisas, que recebe tantas críticas e ainda responde assim... esse tipo de pessoa, já não se vê tanto no mundo.
Vivo em um mundo onde é engraçado zombar o Papa, mas que é um pecado mortal zombar um homossexual (e ser taxado como um intolerante, fascista, direitista e nazista). Vivo em um mundo onde a hipocrisia alimenta as almas de todos nós. Onde podemos julgar um senhor de 85 anos que quer o melhor para a Instituição que representa, mas lhe indagamos com um “Com que direito renuncia?”. Claro, porque no mundo NINGUÉM renuncia a nada. Ninguém se sente cansado ao ir pra escola. Ninguém se sente cansado ao ir trabalhar. Vivo um mundo onde todos os senhores de 85 anos estão ativos e trabalhando (sem ganhar dinheiro) e ajudam às massas. Sim, claro.
Mas agora sei, senhor Ratzinger, que vivo em um mundo que vai sentir falta do senhor. Em um mundo que não leu seus livros, nem suas encíclicas, mas que em 50 anos se lembrará como, com um simples gesto de humildade, um homem foi Papa, e quando viu que havia algo melhor no horizonte, decidiu partir por amor à sua Igreja. Vá morrer tranquilo senhor Ratzinger. Sem homenagens pomposas, sem um corpo exibido em São Pedro, sem milhares aclamando aguardando que a luz de seu quarto seja apagada. Vá morrer, como viveu mesmo sendo Papa: humildemente.

Bento XVI, muito obrigado por renunciar".