23 de out. de 2010

DNJ 25 ANOS: CELEBRANDO A MEMÓRIA E TRANSFORMANDO A HISTÓRIA!

O mês de outubro, dedicado à dimensão missionária de nossa vocação de discípulos missionários, foi também escolhido para contemplar à luz da vocação de cada um(a) esta realidade da Juventude, celebrando desde 1985, o Dia Nacional da Juventude!
Três elementos neste dia para nossa reflexão: o jubileu do DNJ (1985-2010), a realidade juvenil de nosso país e, por fim, o mês missionário - e nele nossa vocação de discípulos missionários a serviço da vida da juventude.
I - DNJ 25 ANOS: Celebrando a memória e transformando a história!
Estamos em festa! Em 2010, as Pastorais da Juventude, os diversos grupos e movimentos que trabalham com jovens e toda a Igreja do Brasil celebram com alegria o Jubileu de 25 anos do Dia Nacional da Juventude. O Jubileu do DNJ, que se iniciou em 1985, quando a ONU (Organização das Nações Unidas) determinou o Ano Internacional da Juventude, coincide novamente com o mesmo anuncio da ONU: 2010 é o ano da Juventude, no mundo todo, para gerar diálogo e entendimento mútuo.
Aqui no Brasil, fazemos desse ano da juventude tempo oportuno para defender a vida dos/as jovens, denunciando o extermínio e a violência que não deixam os/as jovens projetarem suas vidas.
A origem do Jubileu é bíblica. Em Levítico, capítulo 25, vemos que o povo anunciava, ao som da trombeta, um acontecimento solene, uma grande festa: o “ano da graça do Senhor”. O Jubileu implicava em algumas obrigações por parte de todo povo hebraico: deixar descansar a terra; libertar os escravos; perdoar as dívidas.
Descansar a terra: Jubileu, na tradição bíblica, é tempo para recuperar a terra, de sentir e saborear o que produzimos nesses 25 anos. No processo de Revitalização da Pastoral da Juventude Latino-Americana, o Jubileu do DNJ é tempo para discernimento: os frutos do nosso trabalho sustentam a quem? O que construímos deu conta dos desafios do nosso tempo? Quais desafios vamos enfrentar nos próximos 25 anos?
O Jubileu é o ano da graça do Senhor, dado por Ele para que possamos experimentar e fazer uso do fruto do trabalho para que o pobre sobreviva. Há aí uma profunda ética envolvida: a da justiça. Em sintonia com a Campanha da Fraternidade 2010, o Jubileu dos 25 anos do DNJ é tempo para cuidar do pobre, para pagar as dívidas, partilhar os frutos.
Libertar os escravos: o Jubileu é tempo de celebrar com maior alegria, pois os escravos voltam para casa, ao som das trombetas. O Deus que cuida do povo liberta a todos, não há mais escravidão, somos livres. A Semana da Cidadania deste ano propõe uma reflexão sobre o trabalho. No sentido da comemoração jubilar, o trabalho tem de ser livre de opressão, da exclusão e exploração, para ser fonte de vida digna para todos/as. Jesus, vem pra proclamar o ano da graça do Senhor (Lc 4, 16-30), ano para dar vida e liberdade aos pobres. Ano da justiça. Tempo para voltar pra “casa”, organizar a “casa”, resgatar a cultura, como nos propõe a Semana do Estudante 2010.
Perdoar as dívidas: Jubileu é o tempo de proteger os/as preferidos/as do Pai, os/as pobres. Cuidar da justiça, restabelecer a igualdade. Na tradição judaica, era a ocasião de devolver as terras aos que a perderam para outros. Redistribuir a riqueza, dom de Deus para todos/as, como também nos lembra a CF 2010. No Jubileu, provamos a bondade de Deus: os bens não podem acabar nas mãos de uns poucos.
É um tempo de pedir perdão pelos nossos próprios erros, pela negligencia na defesa da vida, pelo silêncio nos momentos em que deveríamos ter gritado: “A Juventude quer Viver!”
25 anos de DNJ nos provoca também a cobrar dívidas. Quais dívidas sociais o Brasil tem com a juventude? Diante do contexto e das estruturas que organizam o extermínio da juventude, quais os desafios para proteger a vida?
O Dia Nacional da Juventude 2010 será tempo de dar graças pelos 25 anos, fazendo memória do tempo passado e projetando passos e sonhos para o futuro! “Para comemorar um Jubileu é preciso vontade política, coração grande, pulmão aberto para o ar novo e, sobretudo, atenção ao Espírito de Deus, Rúah, que faz o futuro e renova a história. Querer cuidar da vida”[1].
Em 2010, com a Semana da Cidadania, a Semana do Estudante e a celebração do Dia Nacional da Juventude, queremos viver esse caminho refletindo as dívidas sociais com a juventude, o chão que pisamos, suas marcas e cores para celebrar, sonhar e participar da construção de um tempo de justiça, "Reino adentro”.
II – A realidade da juventude no Brasil
Ano passado, foi votada e aprovada, pelos deputados e senadores , a PEC da Juventude. O que é isso? PEC da juventude, significo uma grande oportunidade de novas possibilidades para a realidade juvenil. É a Proposta de Emenda à Constituição Federal que assegura aos jovens prioridades em direitos como saúde, alimentação, educação, lazer, profissionalização e cultura, etc. “O Brasil é o país da América Latina que possui o maior contingente de jovens, nos últimos tempos, com vontade de participar das políticas específicas, inclusivas e diferenciadas”, afirmou a relatora da Emenda, a deputada baiana, Alice Portugal.
Uma mudança simples que segundo alguns, quase ou nada, significaria. Porém, vejo como de profunda significação: trata-se de incluir dos direitos assegurados pelo Estado, “às famílias, crianças, adolescentes e aos idosos”, garantir também, aos jovens!
Refere-se ao Capítulo VII do Título VIII, no artigo 227, que passando a afirmar: é dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão. Entre outras coisas, a “PEC da Juventude”, estabelece a criação do Estatuto da juventude e o Plano Nacional de Juventude.
Mas, não basta direitos assegurados na Constituição Federal. A realidade brasileira mostra uma situação que assusta juventude:
a) O Brasil é o terceiro país com mais assassinatos de jovens no mundo;
b) No Brasil morrem por dia, em média, cinqüenta e quatro (54) jovens vítimas de homicídio. Vale lembrar que aqui não mencionam as milhares de vítimas da violência de trânsito;
c) A cada dez (10) jovens assassinados no Brasil, sete (07) são negros;
d) No Brasil, aproximadamente, quarenta e seis por cento (46%) das mortes, tem como principal causa o homicídio.
e) Um outro elemento ainda. Diferente do que se via no passado, que apontavam como principais focos de violência contra a juventude, as cidades grandes e as capitais, agora esta realidade tornou-se comum nas cidades de pequeno e médio porte, ou seja, tornou-se uma realidade bem a nossa frente.
Olhando toda esta realidade de morte de nossos(as) jovens, nos perguntamos. o que celebrar, festejar e lutar, neste 25 anos de DNJ?
1.Quais razões de celebrar?
Olhando para os 25 anos da história do Dia Nacional da Juventude, percebemos logo os fortes elementos da espiritualidade que motivou essa história: o profetismo – anúncio de nossa fé no reino e denúncia de toda situação de opressão que gera morte e nos afasta do sonho de Deus; a fé em Jesus Cristo; o sentimento de pertença à Igreja – comunidade dos/as seguidores/as de Jesus Cristo; a missionariedade; a Bíblia¸ fonte de onde bebemos; o ecumenismo, no diálogo fraterno e acolhedor com todas as pessoas de boa vontade; o testemunho da Boa Nova; o amor aos/às pobres – os/as preferidos/as do Pai; a confiança na promessa – Deus é amor e está sempre a providenciar a libertação de seu povo; a alegria que só tem sentido na ressurreição!
2.Quais razões para continuar lutando?
As grandes lutas assumidas no Dia Nacional da Juventude, desde 1985, estiveram sempre atentas às necessidades da juventude no tempo presente. Foi assim quando tratou da questão da terra; da participação política, da AIDS; da educação; da opressão e preconceito contra mulheres, negros, índios; do trabalho; da ecologia; das políticas públicas; da comunicação; do extermínio de jovens. O DNJ foi e é a voz dos/as jovens que sempre responde aos gritos presentes.
3. Quais razões temos para festejar?
O DNJ é uma grande festa da vida, como anúncio de nossa fé pascal, e na gratuidade pela vida recebida, pela amizade, pela vitória certa dos que crêem no Deus que providencia a libertação. É uma grande confraternização, onde adiantamos desde já a alegria da participação no grande banquete do Reino, para o qual somos todos/as convidados/as!
III – Mês Missionário – nossa vocação de discípulos missionários a serviço da vida da Juventude!
À guisa de conclusão! Os adolescentes e jovens vivem numa fase de opção de vida, de escolhas importantes, de elaboração de projetos para a vida pessoal, familiar e profissional. Para escolher algo, é necessário ter referências. Daí a pergunta que serve para os que não somos mais tão jovens: que referências estamos sendo para os jovens? Que modelos estamos apresentando a eles? Que tipo de sociedade estamos construindo para que eles queiram se integrar nela e não viver à sua margem?
A resposta a essas perguntas nos envolve a todos. Será que os nossos adolescentes e jovens olham para nós, para nossas famílias, para nossas escolas, para nossas igrejas e para a nossa sociedade e não gostam do que vêem? Por quê? Será que eles é que não estão enxergando bem ou nós não estamos empolgando-os pelo que somos e pelos modelos que apresentamos?
O fato do DNJ ser celebrando no mês missionário, muito tem-nos a dizer: precisamos assumir nossa vocação de discípulos missionários. E, parafraseando o tema do III Congresso Vocacional do Brasil Discípulos Missionários a serviço das vocação” podemos dizer: somos chamados e chamadas, neste 25 anos de DNJ, a assumir a vida da juventude como uma opção vocacional a serviço da vida. E a serviço da vida desta importante parcela da sociedade brasileira, muito falada, porém, pouco respeitada e valorizada: nossa juventude!
Convido cada um(a) a fazer uma “profissão de fé” na defesa da vida da juventude. E, fazemos por meio de uma das últimas homilias de dom Oscar Romero, de El Salvador, quando no dia 23 de março de 1980, estando ameaçado de morte disse: “O martírio é uma graça de Deus, que não creio merecer. Porém se Deus aceita o sacrifício de minha vida, que meu sangue seja semente de liberdade e sinal que a esperança se torna realidade. Minha morte, se aceita pó Deus,seja para a libertação do meu povo e como testemunho de esperança no futuro. Vocês podem dizer, se chegarem a me matar, que perdôo e bendigo aqueles que me matarem. Desta maneira se convencerão que perdem seu tempo. Um arcebispo morrerá, porém a igreja de Deus, que é o povo, nunca perecerá” (convidar todos a dar as mãos).
São milhares de jovens mortos e sem direitos de sonhar! Vamos juntos gritar! Girar o mundo, chega de desigualdade social, chega de guerras, de vícios em drogas lícitas e ilícitas; chega de assassinato de jovens, de violência e extermínio de jovens! Queremos e temos o direito de ser jovens. Avante juventude por um mundo melhor!