4 de fev. de 2010

CAMPANHA DA FRATERNIDADE 2010

No texto da campanha, é citado que “a economia existe para a pessoa e para o bem comum, e não as pessoas para a economia” Abordando pautas defendidas por movimentos sociais, a Campanha da Fraternidade 2010 (CF) terá como tema “Vocês não podem servir a Deus e ao dinheiro”. Desta vez, o objetivo da campanha, que é organizada pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e pelo Conselho Nacional de Igrejas Cristãs no Brasil (CONIC) é denunciar a perversidade de todo modelo econômico que vise em primeiro lugar o lucro. No texto da campanha, é citado que “a economia existe para a pessoa e para o bem comum, e não as pessoas para a economia”. Ou seja, o dinheiro deve servir para a valorização do ser humano e do meio ambiente, e não para a destruição e somente o lucro. Neste sentido, a transformação da água em mercadoria, a não realização da reforma agrária, o número alto de trabalho escravo e o desmatamento serão pontos abordados. Para falar mais sobre a campanha, a Radioagência NP entrevistou o assessor especial da CONIC, padre Gabrieli Cipriani. Na entrevista, ele fala sobre como a campanha vai trabalhar no conceito de inclusão social em favor de uma economia que gere a vida, e não a morte e destruição. Para ele, a união das forças e dos projetos dos movimentos sociais são capazes de reverter o quadro de exploração pelo qual passa o trabalhador brasileiro. Confira a entrevistaRadioagência NP: Padre, este ano a linha da CF trabalha com várias pautas defendidas por movimentos sociais. Como foi pensada essa linha? Gabrieli Cipriani: Hoje, precisamos de outra economia para que o planeta terra seja um planeta habitável. Nossa opção de incentivar as forças sociais para um novo modelo econômico foi motivada especialmente pela permanência de um grande número de pessoas no país que passam necessidades. Pessoas que geralmente não são objetos dos planos econômicos. Esses planos econômicos visam o crescimento da classe rica do nosso país, e para os pobres ficam somente as migalhas desse desenvolvimento. RNP: Como as questões fundamentais, como a da água e a da terra, serão abordadas na campanha? Gabrieli Cipriani: Água e terra são questões que devem caminhar juntas. Gostaríamos que todas as forças, todas as organizações que lutam pela terra que se envolvessem nessa campanha. Que reforçassem também a campanha que o Forum da Reforma Agrária já lançou, que é para o limite da propriedade de terra. A Campanha da Fraternidade apoia essa iniciativa. Na questão da água, focamos os impactados pela produção de energia. Muitos são expulsos de suas terras por causa da construção de usinas hidrelétricas. Nesse sentido, a situação é muito grave por esse grande número de pessoas que ficam desalojadas e sem saber o que fazer no futuro. Existe também o problema cada dia mais grave que é o da transformação da água em mercadoria. RNP: E como será levada essa proposta para a classe trabalhadora? Gabrieli Cipriani: Ouvimos falar todos os dias no crescimento econômico. Mas perguntamos para quem vai essa riqueza que cresce todos os dias? Quem é que usufrui do crescimento do nosso país? As respostas são simples. Nunca a população mais pobre foi realmente objeto de um plano econômico. Os planos econômicos do nosso país só visam o crescimento, mas, nunca dizem para quem vai esse crescimento do país. Nosso desafio é a construção de um novo modelo econômico. De um modelo solidário, onde a riqueza seja distribuída. Precisamos de políticas que visem uma mudança nas condições de vida da população. RNP: Com este raciocínio e foco, a campanha está apoiando as manifestações dos movimentos sociais? Gabrieli Cipriani: A campanha não foge das ações políticas dos movimentos sociais. Esperamos que todos os movimentos que têm seus programas e seus projetos vejam que a CF é um momento favorável para descerem nas ruas e nas praças para gritarem suas reivindicações. Não queremos que tudo fique reduzido nas palavras que são escritas nos textos da campanha, mas que se some aos projetos dos movimentos sociais. RNP: Ela consegue compreender cada especificidade de ação política de vários movimentos? Gabrieli Cipriani: Não se consegue nada sem pressão popular. São bem vindas todas as mobilizações sociais que mostrem os programas dos movimentos sociais. Queremos que todos os projetos [dos movimentos sociais] se transformem em um programa de um novo modelo econômico, para assim, proporcionar bem-estar para o povo e não para enriquecer algumas pessoas. RNP: Para finalizar padre, como o tema da corrupção será tratado? Gabrieli Cipriani: Este modelo econômico é baseado basicamente sobre a corrupção. Baseia-se em quem pode enriquecer que enriqueça. É um sistema insustentável e corrupto. A corrupção não está apenas em episódios, como no caso aqui do Distrito Federal [esquema de propina comandado pelo governador do DF, José Roberto Arruda (DEM)] ou em algum outro. Temos que pensar que a corrupção circula em todos os ambientes. É lamentável estar nessa situação. Temos que gritar não somente para os pequenos ou grandes episódios, mas sim, para este sistema que está baseado na corrupção.
De São Paulo, da Radioagência NP, Danilo Augusto.


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