Dayis Loza Granados – CEBs da Nicarágua
-As resistências de trinta anos atrás às ditaduras cruéis e sangrentas que governavam nossos povos pobres, que matavam sem piedade a tantos inocentes, nas guerras, para despojar-nos de nossas terras, da liberdade de expressão, das reivindicações conseguidas em algumas ocasiões, por querer que desapareçamos definitivamente das lutas organizadas do povo pela justiça e pela paz.-Como Dom Romero nessas circunstâncias assume um claro e decisivo compromisso evangélico libertador e uma clara posição nas lutas do povo e se converte na voz dos sem voz e uma pedra no sapato desses poderosos que, por seu dinheiro, acreditam ser donos do mundo.
Contra quem resistíamos?
-Contra governantes corruptos e títeres do império norteamericano.- Contra exércitos repressivos que manchavam e desrespeitavam o direito à vida das pessoas, sobretudo a uma vida digna.- Contra a ingerência norteamericana no rumo que nossos povos devem tomar.- Contra os que nos tiraram o desejo de lutar por um mundo mais justo, mais humano.- Contra perder nossas vidas, que nos roubassem a ilusão e nossos sonhos de algum dia ser sujeitos ativos de nosso próprio desenvolvimento, livres e independentes.- Contra que nos tirassem a vontade, a razão, a fé e a esperança.- Contra que arrebatassem mais vidas inocentes, para satisfazer a ambição dos poderosos.- Contra continuar permitindo que os recursos naturais de nossos países fossem destruídos e acumulados pelos latifundiários.- Contra a imposição de guerras, fome, desnutrição, doenças, destruição dos bens conquistados.- Contra a concentração das terras em poucas mãos.- Contra o desaparecimento de líderes, levados pela Guarda Nacional às noites e nunca mais foram devolvidos às suas famílias.
Como resistíamos?
-Organizando o povo na luta armada contra as ditaduras que oprimiam, assassinavam e roubavam ao povo.- Tomando consciência da importância de nosso compromisso na participação da luta pela libertação das garras do imperialismo e de todos aqueles que nos escravizavam.- Com a formação de lideranças cristãs e a prática do evangelho libertador de Jesus e, sobretudo, ter encarnado esse evangelho na história de nossos povos.- Com a luta organizada do povo pobre e o compromisso inquebrantável de nossos heróis e mártires de dar a vida sem pedir nada em troca. Somente com a esperança no Deus da vida, de que haveria uma vida melhor para os pobres do mundo.
Contexto 30 anos depois
- Todas as coisas continuam vigentes, apesar de que de forma mascarada: a violação dos direitos humanos; já não nos matam com uma guerra armada, mas com a fome que padecemos, pela destruição do meio ambiente por parte das grandes empresas transnacionais e dos oligarcas nacionais, com a imposição do livre mercado, com a falta de emprego, com a imposição de nossos governantes e não deixar que sejam eles quem decidam o que é melhor para cada cidadão e para o país, com a ingerência norteamericana nas políticas públicas de nossos povos.- A globalização do mercado, que é uma brincadeira de mal gosto aos nossos produtores, especialmente porque nunca poderemos competir com os grandes produtores dos EUA, que recebem subsídios por parte de seu governo.- As riquezas que estão concentradas em poucas mãos.- A falta de políticas públicas que beneficiem as grandes maiorias.- Pela privatização dos serviços básicos.- Os poderosos continuam falando em nome da democracia, fechando os espaços de organização do povo.- As migrações forçadas.- O narcotráfico que nos usa como ponte para passar para outros países.- A corrupção que existe nos governos, a polarização da política.- A prostituição infantil comercial, a violência geral que se estabeleceu em nossa sociedade.
Como se desenvolvem as resistências hoje?
- Criando e promovendo novas alternativas de vidas; potencializando a participação e a incidência cidadã nas políticas públicas.- Formando integralmente as bases; unindo fé e política.- Lutando para que haja ética e transparência na política.- Sendo críticos construtivamente.- Colocando em prática o evangelho libertador de Jesus.- Retomando o exemplo de nossos heróis e mártires, especialmente o de Dom Romero, nas lutas por nossas reivindicações.- Denunciando tudo o que vai contra o desenvolvimento dos povos pobres.- Articulando nossas lutas em âmbito centroamericano e latinoamericano.- Desenvolvendo projetos sociais pela vida que vêm a paliar um pouco a necessidade das pessoas e nos ajuda a participar ativamente no desenvolvimento de nossas populações.- Colocando em prática a voz profética de Dom Romero.
A que resistimos?
- À globalização neoliberal- A que nos escravizem completamente com o consumismo.- A que nos roubem o direito à vida.
Mensagens e práticas de Dom Romero que nos dão critérios para:
- A denúncia.- Os que o conheceram de perto nos dizem que Dom Romero era uma pessoa muito conservadora; custava aceitar os documentos de Medellín; depois, converteu-se no mais fervoroso defensor e impulsionador de ditos documentos. Entendemos que Dom Romero viveu muitas horas de sofrimento interior. Enfrentou suas crises religiosas com honradez e, por isso, chegou a ser um homem de seu tempo, um guia para todos.- A crise aparece quando temos que fazer coisas que são necessárias, por exemplo, a denúncia profética: "é dolorosa, porém, necessária" aos que gostam de atirar na cara da sociedade os seus pecados: não gostaria de dizer o que disse, mas Deus manda dizer" (3 de setembro de 1978).- O profeta Jeremias chegou a maldizer a hora em que nasceu, era a hora de crise; não gostava de denunciar as injustiças; porém, sentia-se obrigado por sua consciência e por Deus (Cf. Jer 15,10ss). Algo do profeta Jeremias poderia ser meu papel (3 de setembro de 1978 ; v. 166); estas palavras nos fazem sentir a dor e o sofrimento que viveu para ser fiel ao evangelho libertador de Jesus; sem contar a solidão que experimentou por não sentir o apoio de muitos de seus irmãos sacerdotes e bispos.- Falar a verdade é sofrer o tormento interior que os profetas sofriam.- Porque é muito mais fácil predicar a mentira, acomodar-se às situações para não perder as vantagens, para ter sempre amizades, para ter poder (22 de abril de 1979 / VI 313).
A articulação fé e política
- A Igreja não se identifica com nenhuma opção política concreta, mas apoio o que de justo existe nela.- Assim como está disposta a denunciar sempre o que tenha de injusto, não deixará de ser voz dos que não têm voz; enquanto existam oprimidos, marginalizados da participação na gestação e nos benefícios do desenvolvimento do país (20 de maio de 1979).- Não devemos estranhar que como pastor de nossa Igrejas católica assumisse com responsabilidade seu compromisso de ir tornando realidade a construção do Reino de Deus, porque se tudo o que se busca é bom e justo é reino de Deus.
A análise do conflito
-Se existe um conflito entre o governo e a igreja não é porque a Igrejas seja opositora política do governo, mas porque o conflito já está estabelecido.- Entre o governo e o povo, a igrejas defende ao povo (21 de outubro de 1979 / VII 364); veja que o conflito não é entre a Igreja e o governo. É entre o governo e o povo e a Igreja está com o povo e o povo está com a Igreja, graças a Deus (21 de janeiro de 1979). Dom Romero não tinha medo do conflito quando o conflito era provocado pela fidelidade ao Senhor; ele estava claro de que o evangelho que a Igreja predica sempre provoca conflitos.
Dom Romero nos ensinou uma nova evangelização que é transmitir com eficiência e fidelidade a boa nova dos pobres, não porque inventou métodos e conteúdos novos, mas porque fez sangue verdade e história a doutrina do evangelho.
Todas essas dimensões foram discernidas muito claramente por Dom Romero e nos dão um exemplo de qual deve ser nossa primeira preocupação como cristãos: ir-nos identificando cada dia mais com Jesus, radicalizando-nos em seu evangelho libertador.
Outros tempos, outros lugares: desafios que sua memória martirial nos impõe na construção de uma sociedade mais justa
Na atualidade seguimos sua memória, inspirando-nos a tentar sanar a política; que realmente se opte por ela para responder a necessidades e problemas dos povos, especialmente dos mais pobres a partir da opção preferencial pelos pobres.
Na história atual
Na política
Na Igreja
Entre os mais pobres
Nos governantes
Desafios
Não calar por medo de enfrentar aos mais poderosos; estar claros de que se calamos nos convertemos em cúmplices das injustiças que cometem contra os mais pobres.