A Igreja no Brasil, vivenciou em 2007, de 13 a 31 de Maio, no Santuário de Nossa Senhora Aparecida, a Mãe Negra deste Brasil, a realização da V Conferência Geral do Episcopado Latino Americano e Caribenho, ou comumente, chamada de Conferência de Aparecida.
A riqueza deste evento se exprime nas suas variadas opções teológicas e pastorais, entre elas destacamos a retomada do método teológico VER, JULGAR e AGIR. Entre sombras e luzes, a Igreja na América Latina e no Caribe, retoma o debate a respeito das Comunidades Eclesiais de Base, reassumindo sua caminhada e, convidando toda a Igreja deste Continente a “uma conversão pessoa e pastoral”, fazendo uma opção pelas comunidades que passa pela descentralização das grandes instituições eclesiais, falando mesmo de “setorização das paróquias”, para assim fortalecer os laços de convivência e de amadurecimento da fé.
Nesta opção pela “setorização das paróquias” encontramos um instrumento importantíssimo para a animação e fortalecimento das pequenas comunidades, entre as quais destacamos, o novo jeito de ser Igreja das Comunidades Eclesiais de Base.
Neste sentido, queremos ressaltar que no contexto de Igreja no Brasil, no mesmo ano de 2007, celebrávamos um aniversário muito importante para nós das CEBs – Comunidades Eclesiais de Base no Brasil. Tratava-se dos vinte e cinco (25) anos de um dos documentos da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), sobre as Comunidades Eclesiais de Base. O Documento 25 da CNBB tem como tema, exatamente, Comunidades Eclesiais de Base na Igreja do Brasil. Ele foi aprovado na sétima (07) reunião ordinária do Conselho Permanente desta Conferência, ocorrida entre os dias vinte e três (23) e vinte e seis (26) de Novembro do ano de 1982, em Brasília-DF.
Alegra-nos o fato de que, após 28 anos (1982-2010) deste documento elaborado e aprovado pelos nossas bispos, o Conselho Permanente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, CNBB, tenha escolhido como tema de estudo para a sua Assembléia Geral de 2010, o tema das Comunidades Eclesiais de Base. Assembléia esta a realizar-se no mês de maio, desta vez em Brasília, por ocasião da realização do XVI Congresso Eucarístico Nacional.
A primeira vista pode parecer sem sentido falar de aniversário de um documento da Igreja no Brasil já que são tantos; em segundo lugar, um documento por si só quase nada diz, senão for pelos, filhos e filhas, desta Igreja conhecido e assumido. Aqui uma primeira observação dirige-se, sobretudo, aos pastores da Igreja no Brasil, pois, foram eles a elaborar este documento numa das suas reuniões, trazendo, por isso mesmo, o nome da própria Conferência Episcopal, CNBB.
A importância deste referido documento está no fato de que a CNBB, no seu conjunto expressou a sua «adesão» às CEBs, talvez melhor dizendo «reconheceu» estas comunidades num dos seus documentos oficiais. Creio que nem todos os bispos estavam de acordo ou expressavam sua adesão às CEBs, porém, o documento é da Conferência Episcopal e, nele vem reconhecido o potencial destas comunidades, afirmando que elas são um fenômeno profundamente eclesial: «elas nasceram no seio da Igreja institucional e tornaram-se novo jeito de ser Igreja e, que é ao redor delas que se desenvolve, e se desenvolverá cada vez mais, no futuro, a ação pastoral e evangelizadora da Igreja» (cf. Documentos da CNBB, 25. Introdução, n. 03).
Mas, não basta encontrar esta fundamentação da Eclesialidade das CEBs neste referido documento para estarmos tranqüilos de que elas tenham e sejam plenamente aceitas em certos ambientes da Igreja neste país. Tenhamos presente que muitos preconceitos imperam na mente e no coração de pastores e fiéis, quando se fala de CEBs. Alguns quiseram e /ou chegaram a encontrar uma via média, isto é, um meio termo para exprimir a realidade das Comunidades Eclesiais de Base. Daí que, em certos ambientes, algumas pessoas falam de Comunidades Eclesiais ou de Pequenas Comunidades como sinônimo de Comunidades Eclesiais de Base. Não deixamos de reconhecer que esta terminologia é usada em outros países da América Latina, porém, no caso do Brasil, sua carteira de identidade é Comunidades Eclesiais de Base.
Sendo sincero não vejo problema, nem acho que apenas pela diferença do nome isso mude alguma coisa nas CEBs. Sendo Pequenas Comunidades, Comunidades Eclesiais ou Comunidades Eclesiais de Base não acrescenta, nem diminui nada a elas. Porém, o problema encontra-se no porque mudar este nome universalmente reconhecido e registrado na nossa eclesiologia. O próprio Documento de Aparecida faz uma tremenda confusão neste sentido, usando esta nomenclatura como sinônimo de CEBs.
Não encontrei até agora um fundamento lógico-teológico que dê sustentação ou que explique a justa mudança do nome destas comunidades. Tenho a ligeira impressão que a mutação do nome no fundo exprime um preconceito em relação às CEBs. Em muitos contextos e/ou ambientes reina ainda um clima de desconfiança quanto as CEBs, igualmente, um preconceito e um desconhecimento delas. Não poucas pessoas, até pessoas que deveríamos, supor conhecedoras, manifestam-se total ou parcialmente ignorantes neste sentido. Nas casas de formação e/ou nos seminários este parece ser o comportamento mais evidente!
Se perguntamos a muitos seminaristas o que é uma Comunidade Eclesial de Base, muitos se perdem na resposta, outros tantos irão assegurar algumas besteiras de casos problemáticos que serviram e servem ainda hoje de desculpas ou de razões para rejeitarem ditas comunidades. Alguns mais radicais - preconceituosos e ignorantes - irão afirmar que são “grupos de pessoas rebeldes contra a Igreja e o papa, apoiados por alguns bispos comunistas”. Neste sentido, certa gente metida a mais fiel à Igreja, assegura que, graças a Deus tudo isso já passou e, que mesmo estes bispos comunistas que “erraram na caminhada” já estão repousando em paz na eternidade (já morreram) ou estão repousando sem uma atuação pastoral (tornaram-se eméritos).
1. Alargando os horizontes
Há quem afirme atualmente que tudo tem sem tempo de viver e de morrer, por isso mesmo, o tempo das CEBs já passou. Hoje existem apenas “algumas viúvas da Teologia da Libertação e das CEBs que insistem em afirmar que elas continuam vivas”.
Há certos diagnósticos que favorece o grupo que sonha com o fim das CEBs: a) As CEBS são coisas do passado, pois, hoje elas não aparecem mais nos meios de comunicações; b) Frente ao surgimento e/ou proliferação dos movimentos espitualistas neo-pentecostais, as CEBs desapareceram: já estão mortas; c) O mundo neoliberal e globalizado não tem espaço para este tipo de projeto comunitário num ideal de fraternidade, igualdade e solidariedade.
O individualismo do mundo moderno como um vírus infectou a sociedade, enfraquecendo ou destruindo as experiências de um projeto de comunidade. Frente a tudo isso, o ser humano viu-se fragilizado e impotente nos ideais de construção participativa, caindo no subjetivismo narcisista, rompendo a dinâmica relacional do eu-tú, que respeitando a intersubjetividade e a interrelacionalidade (M. Bubber e E. Lèvinas) forma o nós-humano.
Nesta relacionalidade entre dois seres humanos, se não exclusivista e fechada em si mesma num horizontalismo imanentista, mas, aberta ao eu-nós-humano - que ultrapassa a pura e simples vertente horizontal culminando e completando-se numa relação de verticalidade - pode muito bem exprimir–se uma relação de transcendência.
As categorias filosóficas eu-tú em sentido humano, podem e devem, bem articuladas exprimir também uma relação do eu-nós-humano com o Tu-divino, de sorte que imanência e transcendência não se excluem reciprocamente, mas sim, complementam e exigem-se mutuamente. Contudo, imanência e transcendência, não se confundem, nem se identificam, eliminando as diferenças existentes, entre elas. Assim, fica claro que deve sempre serem mantidas em profunda relação mas, ao mesmo tempo, em constante tensão.
Muitas reflexões atuais que pretendem ser teológicas não têm a devida atenção quanto a isso. Algumas delas, são filhas reacionárias de uma mentalidade fechada que acusa, indevidamente, as experiências passadas de teologias horizontalistas, (a certo ponto tem lá suas razões), porém, numa busca de superamento destas “limitações do passado”, nem sempre têm evitado o extremismo inverso, isto é, umas teologias verticalistas. Reconheçamos que a virtude do justo equilíbrio nem sempre tem sido vivenciada!
O surto religioso atual vê-se profundamente penetrado por toda esta problemática. Nele mescla-se individualismo e subjetivismo, verticalismo e intimismo, não ajudando muitas vezes a respeitar, nem mesmo a dinâmica da Oração do Senhor: Pai-Nosso e pão-nosso. Vertendo-se em pai-meu e pão-meu. Acrescenta-se a isso o fenômeno das conversões repentinas e a busca da religião como cura-solução para o meu problema individual.
Por outra parte virou moda falar de secularização, mundo secularizado, “sociedade descristianizada”. Neste sentido, sem negar a “veracidade” do fenômeno, tenho a impressão de que na verdade o que muitos críticos do mundo moderno - que se encontram no âmbito da Igreja ou das igrejas - alarmam chamando de sociedade descristianizada, não trata realmente de uma crítica à crise de fé do mundo moderno, mas sim, de um saudosismo da cristandade medieval.
Queira Deus, eu esteja errado nesta minha intuição. Entretanto, se for verdade, frente a este modo de pensar de alguns - não poucos hoje na Igreja e no mundo - sou sincero em afirmar parafraseando os que profetizarão o fim das CEBs e da Teologia da Libertação dizendo que «elas já morreram, são coisas do passando restando agora apenas algumas viúvas que choram sua perca e tentam manter viva a saudosa memória desse fantasma». Nesta mesma linha de raciocínio a respeito da cristandade digo: a cristandade medieval é passada e morta, restando apenas alguns odores infecciosos e, algumas viúvas que lamentam sua morte, insistindo em “herdarem seus pertences”.
Na fileira dos muitos que choram a morte da cristandade e tentam herdar seus pertences, encontram-se entre tantos outros, alguns mais destacados grupos e movimentos potentes, tais como: a «organização» fundada por Plínio Correia TFP – Tradição Família e Propriedade –, sua dissidência Arautos do Evangelho, a «ultramontanista» Associação Cultural Montfort, a Opus Dei, etc.
No reverso da história, revela-se a vitalidade das CEBs e a sua consolidada caminhada. A escopo de visão geral, basta olharmos os dados referentes e um dos últimos grandes eventos das CEBs no Brasil: o XII Intereclesial, acontecido em Porto Velho-RO, nos dias 21 a 25 de Julho de 2009. Eram 3.010 delegados, aos quais se somam convidados, equipes de serviço, impressa e famílias que acolheram os participantes, ultrapassando 5 mil pessoas envolvidas neste Interecelsial. Ainda das 272 dioceses do Brasil, 2.174 dos participantes, eram leigos e leigas: 1.234 (mulheres) e 949 (homens). O número de religiosas 197 e dos religiosos irmãos 41; 331 padres e 56 bispos. Estiveram ainda presente em nome das igrejas cristãs e denominações religiosas, 01 bispo anglicano, diversos pastores e pastoras, vários membros dessa mesma igreja e tantos outros da igreja de confissão metodista. As nações indígenas, estiveram representadas, pelos seus 38 participantes. O encontro foi ainda abrilhantado com a presença de pessoas de 09 diferentes países da América Latina e do Caribe. Neste encontro, destaque especial, merece a presença marcante da juventude de todo o Brasil, nas suas várias organizações; tivemos ainda a participação de 05 pessoas da Europa; 01 da África; 01 da Ásia; e 01 da América do Norte.
A riqueza deste evento se exprime nas suas variadas opções teológicas e pastorais, entre elas destacamos a retomada do método teológico VER, JULGAR e AGIR. Entre sombras e luzes, a Igreja na América Latina e no Caribe, retoma o debate a respeito das Comunidades Eclesiais de Base, reassumindo sua caminhada e, convidando toda a Igreja deste Continente a “uma conversão pessoa e pastoral”, fazendo uma opção pelas comunidades que passa pela descentralização das grandes instituições eclesiais, falando mesmo de “setorização das paróquias”, para assim fortalecer os laços de convivência e de amadurecimento da fé.
Nesta opção pela “setorização das paróquias” encontramos um instrumento importantíssimo para a animação e fortalecimento das pequenas comunidades, entre as quais destacamos, o novo jeito de ser Igreja das Comunidades Eclesiais de Base.
Neste sentido, queremos ressaltar que no contexto de Igreja no Brasil, no mesmo ano de 2007, celebrávamos um aniversário muito importante para nós das CEBs – Comunidades Eclesiais de Base no Brasil. Tratava-se dos vinte e cinco (25) anos de um dos documentos da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), sobre as Comunidades Eclesiais de Base. O Documento 25 da CNBB tem como tema, exatamente, Comunidades Eclesiais de Base na Igreja do Brasil. Ele foi aprovado na sétima (07) reunião ordinária do Conselho Permanente desta Conferência, ocorrida entre os dias vinte e três (23) e vinte e seis (26) de Novembro do ano de 1982, em Brasília-DF.
Alegra-nos o fato de que, após 28 anos (1982-2010) deste documento elaborado e aprovado pelos nossas bispos, o Conselho Permanente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, CNBB, tenha escolhido como tema de estudo para a sua Assembléia Geral de 2010, o tema das Comunidades Eclesiais de Base. Assembléia esta a realizar-se no mês de maio, desta vez em Brasília, por ocasião da realização do XVI Congresso Eucarístico Nacional.
A primeira vista pode parecer sem sentido falar de aniversário de um documento da Igreja no Brasil já que são tantos; em segundo lugar, um documento por si só quase nada diz, senão for pelos, filhos e filhas, desta Igreja conhecido e assumido. Aqui uma primeira observação dirige-se, sobretudo, aos pastores da Igreja no Brasil, pois, foram eles a elaborar este documento numa das suas reuniões, trazendo, por isso mesmo, o nome da própria Conferência Episcopal, CNBB.
A importância deste referido documento está no fato de que a CNBB, no seu conjunto expressou a sua «adesão» às CEBs, talvez melhor dizendo «reconheceu» estas comunidades num dos seus documentos oficiais. Creio que nem todos os bispos estavam de acordo ou expressavam sua adesão às CEBs, porém, o documento é da Conferência Episcopal e, nele vem reconhecido o potencial destas comunidades, afirmando que elas são um fenômeno profundamente eclesial: «elas nasceram no seio da Igreja institucional e tornaram-se novo jeito de ser Igreja e, que é ao redor delas que se desenvolve, e se desenvolverá cada vez mais, no futuro, a ação pastoral e evangelizadora da Igreja» (cf. Documentos da CNBB, 25. Introdução, n. 03).
Mas, não basta encontrar esta fundamentação da Eclesialidade das CEBs neste referido documento para estarmos tranqüilos de que elas tenham e sejam plenamente aceitas em certos ambientes da Igreja neste país. Tenhamos presente que muitos preconceitos imperam na mente e no coração de pastores e fiéis, quando se fala de CEBs. Alguns quiseram e /ou chegaram a encontrar uma via média, isto é, um meio termo para exprimir a realidade das Comunidades Eclesiais de Base. Daí que, em certos ambientes, algumas pessoas falam de Comunidades Eclesiais ou de Pequenas Comunidades como sinônimo de Comunidades Eclesiais de Base. Não deixamos de reconhecer que esta terminologia é usada em outros países da América Latina, porém, no caso do Brasil, sua carteira de identidade é Comunidades Eclesiais de Base.
Sendo sincero não vejo problema, nem acho que apenas pela diferença do nome isso mude alguma coisa nas CEBs. Sendo Pequenas Comunidades, Comunidades Eclesiais ou Comunidades Eclesiais de Base não acrescenta, nem diminui nada a elas. Porém, o problema encontra-se no porque mudar este nome universalmente reconhecido e registrado na nossa eclesiologia. O próprio Documento de Aparecida faz uma tremenda confusão neste sentido, usando esta nomenclatura como sinônimo de CEBs.
Não encontrei até agora um fundamento lógico-teológico que dê sustentação ou que explique a justa mudança do nome destas comunidades. Tenho a ligeira impressão que a mutação do nome no fundo exprime um preconceito em relação às CEBs. Em muitos contextos e/ou ambientes reina ainda um clima de desconfiança quanto as CEBs, igualmente, um preconceito e um desconhecimento delas. Não poucas pessoas, até pessoas que deveríamos, supor conhecedoras, manifestam-se total ou parcialmente ignorantes neste sentido. Nas casas de formação e/ou nos seminários este parece ser o comportamento mais evidente!
Se perguntamos a muitos seminaristas o que é uma Comunidade Eclesial de Base, muitos se perdem na resposta, outros tantos irão assegurar algumas besteiras de casos problemáticos que serviram e servem ainda hoje de desculpas ou de razões para rejeitarem ditas comunidades. Alguns mais radicais - preconceituosos e ignorantes - irão afirmar que são “grupos de pessoas rebeldes contra a Igreja e o papa, apoiados por alguns bispos comunistas”. Neste sentido, certa gente metida a mais fiel à Igreja, assegura que, graças a Deus tudo isso já passou e, que mesmo estes bispos comunistas que “erraram na caminhada” já estão repousando em paz na eternidade (já morreram) ou estão repousando sem uma atuação pastoral (tornaram-se eméritos).
1. Alargando os horizontes
Há quem afirme atualmente que tudo tem sem tempo de viver e de morrer, por isso mesmo, o tempo das CEBs já passou. Hoje existem apenas “algumas viúvas da Teologia da Libertação e das CEBs que insistem em afirmar que elas continuam vivas”.
Há certos diagnósticos que favorece o grupo que sonha com o fim das CEBs: a) As CEBS são coisas do passado, pois, hoje elas não aparecem mais nos meios de comunicações; b) Frente ao surgimento e/ou proliferação dos movimentos espitualistas neo-pentecostais, as CEBs desapareceram: já estão mortas; c) O mundo neoliberal e globalizado não tem espaço para este tipo de projeto comunitário num ideal de fraternidade, igualdade e solidariedade.
O individualismo do mundo moderno como um vírus infectou a sociedade, enfraquecendo ou destruindo as experiências de um projeto de comunidade. Frente a tudo isso, o ser humano viu-se fragilizado e impotente nos ideais de construção participativa, caindo no subjetivismo narcisista, rompendo a dinâmica relacional do eu-tú, que respeitando a intersubjetividade e a interrelacionalidade (M. Bubber e E. Lèvinas) forma o nós-humano.
Nesta relacionalidade entre dois seres humanos, se não exclusivista e fechada em si mesma num horizontalismo imanentista, mas, aberta ao eu-nós-humano - que ultrapassa a pura e simples vertente horizontal culminando e completando-se numa relação de verticalidade - pode muito bem exprimir–se uma relação de transcendência.
As categorias filosóficas eu-tú em sentido humano, podem e devem, bem articuladas exprimir também uma relação do eu-nós-humano com o Tu-divino, de sorte que imanência e transcendência não se excluem reciprocamente, mas sim, complementam e exigem-se mutuamente. Contudo, imanência e transcendência, não se confundem, nem se identificam, eliminando as diferenças existentes, entre elas. Assim, fica claro que deve sempre serem mantidas em profunda relação mas, ao mesmo tempo, em constante tensão.
Muitas reflexões atuais que pretendem ser teológicas não têm a devida atenção quanto a isso. Algumas delas, são filhas reacionárias de uma mentalidade fechada que acusa, indevidamente, as experiências passadas de teologias horizontalistas, (a certo ponto tem lá suas razões), porém, numa busca de superamento destas “limitações do passado”, nem sempre têm evitado o extremismo inverso, isto é, umas teologias verticalistas. Reconheçamos que a virtude do justo equilíbrio nem sempre tem sido vivenciada!
O surto religioso atual vê-se profundamente penetrado por toda esta problemática. Nele mescla-se individualismo e subjetivismo, verticalismo e intimismo, não ajudando muitas vezes a respeitar, nem mesmo a dinâmica da Oração do Senhor: Pai-Nosso e pão-nosso. Vertendo-se em pai-meu e pão-meu. Acrescenta-se a isso o fenômeno das conversões repentinas e a busca da religião como cura-solução para o meu problema individual.
Por outra parte virou moda falar de secularização, mundo secularizado, “sociedade descristianizada”. Neste sentido, sem negar a “veracidade” do fenômeno, tenho a impressão de que na verdade o que muitos críticos do mundo moderno - que se encontram no âmbito da Igreja ou das igrejas - alarmam chamando de sociedade descristianizada, não trata realmente de uma crítica à crise de fé do mundo moderno, mas sim, de um saudosismo da cristandade medieval.
Queira Deus, eu esteja errado nesta minha intuição. Entretanto, se for verdade, frente a este modo de pensar de alguns - não poucos hoje na Igreja e no mundo - sou sincero em afirmar parafraseando os que profetizarão o fim das CEBs e da Teologia da Libertação dizendo que «elas já morreram, são coisas do passando restando agora apenas algumas viúvas que choram sua perca e tentam manter viva a saudosa memória desse fantasma». Nesta mesma linha de raciocínio a respeito da cristandade digo: a cristandade medieval é passada e morta, restando apenas alguns odores infecciosos e, algumas viúvas que lamentam sua morte, insistindo em “herdarem seus pertences”.
Na fileira dos muitos que choram a morte da cristandade e tentam herdar seus pertences, encontram-se entre tantos outros, alguns mais destacados grupos e movimentos potentes, tais como: a «organização» fundada por Plínio Correia TFP – Tradição Família e Propriedade –, sua dissidência Arautos do Evangelho, a «ultramontanista» Associação Cultural Montfort, a Opus Dei, etc.
No reverso da história, revela-se a vitalidade das CEBs e a sua consolidada caminhada. A escopo de visão geral, basta olharmos os dados referentes e um dos últimos grandes eventos das CEBs no Brasil: o XII Intereclesial, acontecido em Porto Velho-RO, nos dias 21 a 25 de Julho de 2009. Eram 3.010 delegados, aos quais se somam convidados, equipes de serviço, impressa e famílias que acolheram os participantes, ultrapassando 5 mil pessoas envolvidas neste Interecelsial. Ainda das 272 dioceses do Brasil, 2.174 dos participantes, eram leigos e leigas: 1.234 (mulheres) e 949 (homens). O número de religiosas 197 e dos religiosos irmãos 41; 331 padres e 56 bispos. Estiveram ainda presente em nome das igrejas cristãs e denominações religiosas, 01 bispo anglicano, diversos pastores e pastoras, vários membros dessa mesma igreja e tantos outros da igreja de confissão metodista. As nações indígenas, estiveram representadas, pelos seus 38 participantes. O encontro foi ainda abrilhantado com a presença de pessoas de 09 diferentes países da América Latina e do Caribe. Neste encontro, destaque especial, merece a presença marcante da juventude de todo o Brasil, nas suas várias organizações; tivemos ainda a participação de 05 pessoas da Europa; 01 da África; 01 da Ásia; e 01 da América do Norte.
Nenhum comentário:
Postar um comentário